sábado, 22 de outubro de 2011

O Xadrez do Futebol

Longe vão os tempos em que ganhar dentro das quatro linhas era mais importante que vencer fora delas. Os bastidores do futebol ganham cada vez maior preponderância, e a corrida aos lugares do poder torna-se frenética. 

Relativamente ao tema eleições na FPF, ouvi, num programa de opinião desportiva, uma comparação muito feliz e de fácil percepção. Um comentarista comparou o FC Porto a um grande mestre de xadrez a realizar uma partida simultânea com outros jogadores de menor expressão, afirmando, na minha opinião, de forma bastante assertiva, que jogava em todos os tabuleiros, entenda-se, de forma mais concisa e objectiva, que o clube tinha ou pode vir a ter voz activa dentro de qualquer candidatura à presidência da FPF que já exista ou que possa vir a existir. Não podia estar mais de acordo.

No decorrer desta semana, e com alguns desenvolvimentos "interessantes" relativos ao tema eleições na FPF, pode verificar-se que não apenas o FC Porto se movimenta em todas as candidaturas. Embora de forma diferente, SL Benfica e Sporting CP, vão movimentando algumas peças no xadrez das candidaturas. O Benfica, de forma clara, depois de colocar Humberto Coelho na lista de Fernando Gomes, vê Fernando Seara ser indicado como Presidente da Assembleia Geral da FPF da Lista de Carlos Marta. Já o Sporting vê o seu Presidente apoiar Fernando Gomes e o administrador da SAD, Luís Duque, em sentido contrário (ou não) ao representante máximo do clube, aprovar a candidatura do Presidente da Câmara Municipal de Tondela. 

Há duas leituras possíveis desta forma de actuar: uma menos conspirativa, quero acreditar que menos acertada, de que há uma divisão no seio do clube de Alvalade, que caso se confirme essa cisão seria desastroso; outra, na qual quero acreditar, que nos leva para uma interpretação mais complexa, onde se admite que todas estes "avanços e recuos" são estratégicos e que o objectivo principal do leões é, como o agora Presidente do clube afirmou ser objectivo, estar nos órgãos decisórios do futebol nacional. Resta saber se, de facto, esta estratégia do Sporting vai sortir efeito, ou se, acompanhada de maus resultados eventuais (que parecem estar longe), pode gerar uma crise directiva e desportiva nefasta para as ambições leoninas.

E também há outra situação a ter em conta neste jogo de xadrez. Será que todas estas peças são cavalos, bispos e torres, ou são...peões?

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

FIFA e COI: que relação?

Os Jogos Olímpicos são, indubitavelmente, o certame desportivo mais apetecível para qualquer desportista. Pierre de Coubertin imaginou os Jogos Olímpicos (JO) com atletas amadores. Tinha as suas ideias. A evolução dos JO contribuiu decisivamente para a profissionalização dos praticantes e, como tal, passou a permitir atletas com esse estatuto.

A importância e a tradição que os JO têm ultrapassa qualquer desporto, qualquer atleta. No entanto, há dois desportos (provavelmente haverá mais) em que as suas próprias competições são mais valorizadas por parte dos seus atletas do que os JO. Falo do futebol e do ténis. O ténis encontra-se organizado de uma forma diferente. Não há um Campeonato do Mundo convencional, como no futebol, mas sim um ranking individual  actualizado semanalmente, em que o ponto alto das carreiras dos atletas é chegar a nº1 ou vencer uns quantos torneios do Grand Slam. A própria competição de selecções do ténis, a Taça Davis, perdeu a importância que noutros tempos tinha, em detrimento dos milhões de dollars dos Grand Slam's. 

Creio que no futebol, entre os seus mais altos praticantes, a partir de determinada altura deixou de existir uma cultura olímpica que tornasse esta competição num objectivo de carreira para os praticantes da modalidade, embora o futebol faça parte dos JO desde 1900, II edição.  Anteriormente a formação das equipas nacionais para participar nesta competição era livre, sem limitações. Até que em 1932 (em 1930 houve o I Campeonato do Mundo de Futebol) houve a imposição de apenas participarem atletas amadores, que perdurou até aos JO de 1980. Nas duas edições seguintes experimentou-se aceitar apenas atletas que não tivessem participado em Campeonatos do Mundo, sendo que desde 1992 até aos últimos Jogos somente atletas sub 23 (com 3 excepções). Como é óbvio estas sucessivas experiências de diversas imposições de limitações cheira a FIFA, que desta forma evita dividir o palco (e os lucros) com outra competição. 

Sendo os JO a glória máxima de um atleta e de um país, o que leva o COI a aceitar as limitações sucessivas dos participantes (com o dedo da FIFA), sendo que, parece-me óbvio, perde financeiramente com isso? Que tipo de cedências tem vindo a fazer a FIFA, para conseguir o formato da competição?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Danny "BOSMAN" Mwanga

Terramoto à vista! Os clubes europeus, na expectativa, esfregam as mãos de contentes. Com a recusa da MLS em pagar os direitos de formação do atleta Danny Mwanga ao seu clube de origem no Congo, o FC Gedeon, pode abrir-se uma excepção à lei relativa aos direitos de formação.

Passo a explicar. Danny Mwanga, nascido em Kinshasa, Congo, a 17 de Julho de 1991, jogou no FC Gedeon, segundo dirigentes deste clube, enquanto jovem. Foi para os Estados Unidos em 2006. Diz-se que o pai dele era conselheiro do antigo ditador Mobutu Sese Seko, e, por isso, teve de ir viver com a avó. Já nos EUA, voltou a jogar futebol, e chamou à atenção pelo facto de ter sido a 1ª escolha no draft (sistema de "sorteio" de jogadores) de 2010. Assinou um contrato profissional com o Philadelphia Union. Ora, o clube americano, segundo a legislação da FIFA em vigor, deve pagar um valor relativo à formação do atleta, num total de 105 mil euros. Este tipo de processos no futebol europeu é resolvido naturalmente e sem qualquer tipo de problemas, no entanto, nos EUA, a MLS recusa-se a pagar a compensação devida, alegando que uma norma interna no seu regulamento não obriga ao pagamento de tal verba. Assim sendo, pode verificar-se um terramoto com consequências inimagináveis em que os principais visados seriam os clubes ditos pequenos, por norma também eles agentes de formação de jovens jogadores.

Caso a FIFA abra este precedente, prevê-se uma reacção enérgica por parte dos clubes europeus, desejando tratamento semelhante. É um novo mar que se abre... 

A Montanha Russa do Olimpo

O Homem é o verdadeiro criador dos Deuses. No futebol, como na vida, é assim. No futebol, como na vida, o Homem busca a materialização da perfeição, uma coisa concreta, que, por mais paradoxal que possa parecer, personifique e exemplifique o alcance do inalcançável. 

Actualmente, com factor financeiro a tomar conta do, agora negócio, Futebol, assiste-se à quase simultânea ascensão e queda de Deuses descartáveis. A publicidade e os restantes órgãos de comunicação fazem-nos subir o Olimpo de uma forma tão rápida, que só mesmo o mundo real os pode obrigar a fazer o caminho inverso a uma velocidade ainda superior. 

Ronaldinho Gaucho e David Beckham creio serem dois modelos concretos, e, ultimamente,  os mais ilustrativos, desta Deusificação reciclável. Dois casos distintos, no entanto. O brasileiro tinha, e ainda tem, quase que um talento nato para o futebol. Encantou-nos, acredito que a todos, mas infelizmente por poucos anos. O seu talento não foi capaz de acompanhar a evolução da sua imagem, da capacidade em gerar dinheiro e da sua vida social, resultando isso num declínio do jogador. Foi empurrado de clube em clube até ser leiloado pelo AC Milan para o Brasil, tendo a maior licitação sido feita pelo Flamengo. Já David Beckham é um caso diferente. Não tão naturalmente talentoso, soube construir a sua carreira alicerçada principalmente na vertente negócio do futebol, onde ainda hoje dá cartas. Um nasceu para ser Deus, o outro conseguiu criar essa imagem, procurando, numa fase descendente, outros mercados futebolísticos em expansão.

Actualmente surge na antecâmara do Olimpo o FC Barcelona. De forma comum, e sem qualquer tipo de dúvidas, ouvimos a frase: "É a melhor equipa de todos os tempos!". Não é assim tão linear que, apesar do atractivo futebol praticado pelos catalães, estes sejam homenageados como a melhor equipa de sempre. De tempos a tempos surge a necessidade de classificar algum agente do jogo como "o melhor de sempre", para mais tarde ser outro "o melhor de sempre", e depois ser outro. Que o digam o Real Madrid da década de 50, o SL Benfica de 60, o Bayern de Munique de 70 e o Ajax de Cruyff da mesma década, o Brasil de 82, o AC Milan dos Holandeses, etc.

À atenção do FC Barcelona: Hoje em dia destroem-se Deuses com a mesma facilidade com que se cria.